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“NEM NOS MEUS MELHORES SONHOS, IMAGINEI CHEGAR ONDE A GENTE CHEGOU"

Lúcia Fragoso, criadora da Ecopatas, conta o que aconteceu em quatro anos da ong que arrecada tampinhas plásticas e reverte em castrações para animais carentes de SP

20 de agosto de 2022 15:00:00

Sabrina Pires

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Lúcia Fragoso, criadora da Ecopatas, e que nunca subestimou uma tampinha! / Foto: arquivo pessoal

Lúcia Fragoso, criadora da Ecopatas, e que nunca subestimou uma tampinha! / Foto: arquivo pessoal

Você já deve ter ouvido sobre a importância em dar o primeiro passo! É porque só aí vem o segundo, terceiro… enfim! Agora, pense nisso em tampinhas! A primeira, a segunda… toneladas! Esse foi o caminho da Ecopatas, que completa hoje, 20 de agosto, 4 anos de existência.


“Eu comecei de uma forma até ingênua: coloquei um potinho de paçoca vazio atrás da minha mesa com um cartaz escrito ‘tragam tampinhas para castração de animal de rua’, lembra Lúcia Fragoso, criadora da ong que arrecada e venda tampinhas para pagar castrações.


A história com animal de rua era paixão de menina. Mas na vida adulta, eles “insistiam” em aparecer quando Lúcia chegava ou saia do trabalho, na zona leste de São Paulo. Abandonados, os bichinhos precisavam de cuidados e castração. Mas isso custa dinheiro. E às vezes, não é pouco! Só que quem tem essa empatia não consegue virar as costas.


Pedir dinheiro, fazer vaquinha… toda hora? Quem gosta? E tem mais: nem sempre resolve o rombo na sua conta. Já juntar tampinha é outra história!


Lúcia é bióloga e antes de tampinha ser material reciclável que rende algum dinheiro para a causa dos sonhos, ela pensava preocupada no imenso bem que seria recolher aquelas “pecinhas coloridas” do caminho dos animais silvestres. “Muitos, atraídos pelas cores, confundem com comida, morrem…” explicava ela na primeira entrevista ao “E aí, bicho?” em 2019. (assista vídeo abaixo)


Fato é que mesmo sem perceber, juntar tampinha para castrar animais de rua funciona também como um grande “mutirão de limpeza” - como aqueles de praia, só que no caso, em qualquer lugar - e evita ou até mesmo retira tampinhas jogadas por aí a caminho do bueiro… É o mais puro creme do “transformar lixo em luxo”.

“Se eu pudesse teria feito a Ecopatas a minha vida inteira, teria começado muito antes mesmo estando cansada, mesmo sendo trabalhoso, mesmo não tendo mais um sábado pra mim, eu faria tudo de novo”

Tampinhas divididas por cores e os lacres de alumínio são vendidos para seis empresas. A separação é feita atualmente em um galpão para até 90 pessoas. Já é o segundo espaço do Ecopatas. Os dois cedidos pela Sabesp, onde Lúcia trabalha. Sim, ela ainda se divide no horário comercial para a empresa de água e esgoto de São Paulo, e noites, sábados e ás vezes domingos para o projeto das tampinhas.

“Se eu pudesse teria feito a Ecopatas a minha vida inteira, teria começado muito antes mesmo estando cansada, mesmo sendo trabalhoso, mesmo não tendo mais um sábado pra mim, eu faria tudo de novo”, diz ela.


Outra conquista de 2018 até agora são as parcerias. Hoje são as pessoas e empresas que se oferecem para ser um ponto de coleta. As clínicas veterinárias também se disponibilizam voluntariamente para participar e realizar castração por um preço solidário. “No começo, eu ia atrás, explicava o projeto, pedia a parceria. Isso mudou!”


Lúcia tem tudo em uma planilha: são 150 pontos de coleta oficiais, incluindo shoppings de São Paulo, e 30 clínicas veterinárias, na capital, grande São Paulo, inclusive no interior (Sorocaba) e no litoral paulista (Mongaguá).


Nos números, estão 90 protetores independentes cadastrados. Algumas ONGs também realizam os procedimentos com o “patrocínio Ecopatas”. Ao todo, foram 6.188 animais castrados: cães, gatos, coelho e até porquinho-da-índia. (Segundo a American Humane Association, um casal de cachorros pode dar origem, em progressão geométrica, a 2201 descendentes em 4 anos, considerando as sucessivas gerações e 2 gestações por ano por animal.)

Vídeo do "E aí, bicho?" no YouTube mostra como funciona a Ecopatas: "ajudar animais sem gastar dinheiro".

Potinho na "firma": o início da Ecopatas / Foto: arquivo pessoal

Potinho na "firma": o início da Ecopatas / Foto: arquivo pessoal

Se tanta gente apareceu para ajudar, que tal uma filial em outra cidade? “Não é possível porque a gente precisa acompanhar a triagem, a gente não vende a tampinha da forma como a gente recebe, então precisa supervisionar e só tenho sábado pra fazer isso. Por enquanto, não temos essa pretensão”, explica Lúcia.


Mesmo com desafios de tempo e trabalho, as soluções aparecem aos poucos. No primeiro mutirão realizado neste ano, em um dia, a Ecopatas selecionou 1 tonelada e 400 quilos de tampinha. Foram 100 voluntários. “O desafio foi conseguir lanche para todos”, lembra ela. Se um patrocínio pontual cai bem, mandar tampinhas separadas por cores também facilita. #ficaadica


A Ecopatas foi pioneira em São Paulo no uso de tampinhas como fonte de renda para financiar uma causa. Hoje várias instituições também arrecadam esse material. Para Lúcia, essa “concorrência” não é preocupação. “No Brasil, se recicla menos de 2% do plástico. Para ter um nível de igual ao da latinha (97%), por exemplo… não vou ver isso nessa vida! Tem tampinha pra todo mundo!”


No balanço dos quatro anos de trabalho, a Ecopatas contabiliza 166 toneladas de tampinhas recicladas - recolhidas, selecionadas e vendidas. “Se a Ecopatas acabasse hoje eu já estaria imensamente realizada e feliz com o que a gente conseguiu fazer”, diz Lúcia, “nem nos meus melhores sonhos eu imaginei chegar onde a gente chegou!” Nunca subestime o primeiro passo, nunca subestime as tampinhas!

Primeiro mutirão da Ecopatas: 100 voluntários e 1,4 toneladas de tampinhas. Foto: Ecopatas

Primeiro mutirão da Ecopatas: 100 voluntários e 1,4 toneladas de tampinhas. Foto: Ecopatas

Ponto de coleta de tampinhas em shopping de São Paulo

Ponto de coleta de tampinhas em shopping de São Paulo

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