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"EI, CUIDADO COMIGO! EU TÔ AQUI!”

Acidentes fatais geram angústia profunda em tutores pelo fracasso em habilidade de cuidar; entender que somos falíveis e que para os animais o que vale é a intenção são caminhos para lidar com casos assim.

28/05/23

Patrícia Vidal

Gato enrolado em edredom / Foto ilustrativa: pexel

Quase esmaguei a gatinha hoje. Distraída, me sentei na cama, em cima de um montículo feito de edredon, lençol e Murci. Esclareço: Murci é bem pequena, parece filhote. Ouvi um grunhido abafado e soube que era ela. Ainda que, em geral, mie como uma soprano! Dei um pulo. Me vi pedindo desculpas e verificando se ela estava bem. Estava. Alívio imenso!


Como acontece com nove entre dez tutores, a recriminação me perseguiu sem dó. Poxa! Há minutos estávamos embaixo dos lençóis, num chamego delicioso no friozinho da manhã. Como não me ocorreu que ela ainda estava curtindo o calor da cama? Redobrei os carinhos e ela ronronou. Fui perdoada, suspirei.


Nestes tempos, tenho atendido tutores que não tiveram a mesma sorte. Tutores cujos cães morreram por causa de petisco contaminado, atropelamento, picada de aranha. Alguns gatos e aves foram esmagados pelos próprios humanos acidentalmente. Não há palavra para descrever melhor esses eventos: trágicos. Perceber o ocorrido como fracasso na habilidade de cuidar é um golpe profundo na autoestima dos que amam seus animais. Igualmente para os que têm nesse papel uma significativa parte de sua identidade.


É compreensível o anseio de salvar nossos pets, de garantir bem-estar e segurança. Mais que compreensível, é uma saudável demonstração de que o vínculo se construiu forte! Contudo, apesar de nosso desejo, somos falíveis. É impossível controlar todas as variáveis. A vida acontece. O que, sim, está sob nosso domínio é a capacidade de regular as emoções, buscar saídas com mais ajuda ou lucidez, afinar a sintonia com as necessidades do pet e as nossas. 


E talvez duas tarefas importantes para esses casos sejam: 

1) praticar a auto-compaixão quando cometemos equívocos de conduta ou avaliação 

2) validar nossa intenção de fazer o bem.


É um duro aprendizado mas, ainda assim, um legado daquela relação especial. Pode não resolver a culpa totalmente, nem reverter alguns casos tristes, mas tenho aprendido que para os animais, a intenção parece que é o que conta. E é o suficiente. Eles nos amam e nos entendem incondicionalmente!

Psicóloga especializada em vínculos e luto por perdas animais.

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