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CASO PARANÁ: CRIANÇA CRUEL COM ANIMAIS É SINAL DE ALERTA

Violência que resultou em 23 bichos mortos é exemplo para ser avaliado sob a luz da Teoria do Link

16/10/24

Por Robis Nassaro

Criança mata 23 animais no Paraná. Foto: Reprodução/TV Tarobá

Uma criança de 9 anos cometeu um massacre contra animais em um hospital veterinário, em Nova Fátima, no Paraná. O crime registrado por câmeras segurança aconteceu no último domingo (13).

Foram 40 minutos de ação que resultaram em 23 animais mortos. A maioria era de coelhos e porquinhos da índia.


Violência em alto grau - Alguns dos animais foram jogados pela criança contra as paredes, outros esquartejados e tiveram as patas arrancadas. Parte dessa cena foi registrada pelas câmeras.

A Polícia Civil informou que, por se tratar de uma criança, não há implicações contra o autor. O boletim de ocorrência foi encaminhado ao Conselho Tutelar.


Sinal de alerta - Pergunto, por qual motivo  uma criança de 9 anos cometeria esse nível de crueldade? Eu analisei esse episódio. Para mim foi o primeiro envolvendo criança praticando crueldade animal. Na grande maioria das vezes elas são vítimas, e não autoras.


Obviamente, este aqui é um exemplo para ser avaliado sob a luz da Teoria do Link (ou do Elo). Essa Teoria, estudada desde os anos de 1960, relaciona a crueldade animal e violência contra as pessoas no ambiente familiar (violência doméstica). Fernando Tápia foi o primeiro cientista a pesquisar crianças que são cruéis com animais (em 1971). Antes dele, os pesquisadores estudavam apenas criminosos violentos já adultos. Ele percebeu que uma das características–padrão dos criminosos era ter cometido atos de crueldade animal na infância ou adolescência e é por isso que ele resolveu estudar as crianças que cometiam crueldade animal.


E o que a maioria delas tinham como característica comum? Famílias degradadas, envolvidas com violência, drogas, alcoolismo e muitas vezes as crianças eram vítimas de violência doméstica e/ou expostas a ela. Depois, elas replicavam a crueldade aprendida ou manifestavam esse comportamento como forma de exteriorizar seu sofrimento. É por isso que Fernando Tapia dizia que animais maltratados em casa eram sentinelas, um sinal de alerta, uma bandeira vermelha de que pode haver outras vítimas humanas e não humanas em casa sofrendo crueldade ou abusos, além dos animais maltratados.


Os animais de estimação integram a família, por isso é necessário estender o raciocínio da bandeira vermelha, ou seja, crianças cruéis com animais, também são um sinal de alerta de que podem existir outras vítimas humanas ou não humanas, além dessas crianças. Fernando Tápia também dizia em suas pesquisas que nem sempre as crianças deixam de praticar a crueldade animal se permanecerem nos mesmos ambientes em que sofrem abuso ou que foram expostos à crueldade (humana ou não humana). 


Não há ainda muitas informações sobre essa criança, mas pelas reportagens, essa não seria a primeira vez que ela comete crueldade animal. Isso é um alerta de que há algo de errado com ela e intervir, seja por meio de tratamento psicológico ou avaliação de seu ambiente familiar pode "quebrar o elo" e evitar que ela cresça insensível e cruel e venha a se transformar em um criminoso violento no futuro.

Robis Nassaro

Doutor em Ciências Policiais e pesquisador da Teoria do Link.

Escreve, com muito orgulho, uma coluna mensal para o “E aí, bicho?”

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