top of page

RS MOSTRA LIÇÃO QUE NÃO APRENDEMOS SOBRE ANIMAIS: IDENTIFICÁ-LOS

Apesar de simples, plaquinhas e microchips são raros nos animais resgatados durante enchentes, e adoção fica comprometida com possibilidade de tutores voltarem em busca de bichos perdidos

02/06/24

Por: Sabrina Pires

Gato com identificação, mesmo que não saia para a rua

Quando a presidente do Palmeiras, Leila Pereira, levou de avião para São Paulo animais gaúchos resgatados na enchente, houve uma grita: “esses animais têm donos”, diziam alguns. Possivelmente têm mesmo, pessoas que também estão em busca de sobrevivência em algum abrigo. Mas e se ninguém reclamar por esses animais? Por quanto tempo esperar? Até lá, quem vai cuidar e arcar com as despesas até que aconteça um reencontro?


Depois de um mês que as chuvas começaram, ainda tem mais de 600 mil pessoas fora de casa como resultado da tragédia climática. E não se sabe ao certo o número de bichos resgatados nesse período, mas são milhares. De acordo com a Defesa Civil do Estado, são 12,5 mil animais domésticos. Já a Secretaria de Habitação, fala em mais de 20 mil.


O tutor que ainda não encontrou seu animal deve procure a Defesa Civil do município e se deslocar aos abrigos da cidade para tentar identificar o pet.


Em paralelo, voluntários aproveitam o tema ainda em alta para promover o máximo de adoções possíveis. Na internet, existe a campanha ˜Adote um pet do RS”. A ong Ampara Animal (@amparaanimal) https://adoters.org.br criou um site para juntar interesses de quem resgatou e quem quer adotar.


Uma das protetoras independentes de Porto Alegre a esgrimista Deise Falci (@deisefalci) atuou na linha de frente para salvar animais em meio às chuvas. Agora está responsável por mil deles - ela já tinha cerca de 500 antes da enchente. Imagine dar conta das necessidades de tantos bichos? Alguns estão machucados, debilitados e demandam ainda mais atenção. Passado o primeiro momento da catástrofe, muitos que se prontificaram a ajudar começam a voltar para a casa. Não tem jeito: ou encontra-se lar temporário ou alguém para adotar. “Que eles tenham famílias e que não vivam em canis”, declarou Deise em video nas redes sociais. “Eu não tenho mão para abraçar todos. Quero muito que todos encontrem uma família e eu queria muito que as pessoas abrissem seus corações de adotar aquele tipo que ninguém quer, o caramelinho, o pretinho, porte médio, porque às vezes eles têm um temperamento muito melhor do que algum pequenino peludinho que todo mundo tá lá disputando”.


Nem vou entrar aqui na polêmica sobre por que raios resgatamos animais. Se o leitor não chegou nesse nível mínimo de entendimento de que somos todos animais lutando pelo legítimo direito de viver - e no mesmo nível de desespero para fugir do medo, da fome, da sede, do frio e da dor - não vai ser dessa vez que escreverei sobre conceitos básicos que nos igualam.


Em diversas reportagens, inclusive minhas, me surpreendi com tantas críticas a respeito do espaço que a pauta animal ganhou durante essa tragédia. E veja bem, ninguém desprezou vidas humanas. O cavalo caramelo que virou símbolo da resiliência do Rio Grande do Sul também não agradou uma boa parcela de leitores e espectadores. “Lá vem vocês com esse cavalo de novo! Depois não querem crítica˜, escreveu um. Foram diversas polêmicas para além de cães, gatos e cavalos. As cenas com bois, porcos e galinhas tratadas apenas como dinheiro perdido são uma tristeza à parte.

Mas voltemos ao ponto.


Nessa história toda, um detalhe que faria uma diferença gigantesca parece ter passado batido. Se os animais domésticos estivessem identificados, a situação agora seria um pouco mais fácil de se resolver. Aqueles com uma família seriam reencontrados. Como resultado: menos sofrimento para tutores, para os animais e para quem esta tentando ajudar. O trabalho dos protetores seria direcionado. Não se gastaria tempo, energia em achar um novo lar para algum cachorro ou gato que, em tese, já tem.


Identificação é um ato de amor - É tão simples. Uma plaquinha com nome e telefone do tutor na coleira permanente do animal custa na internet menos de R$20,00. Há quem use um localizador também. E tem ainda o microchip, que é um dispositivos do tamanho de um grão de arroz que armazenam as informações do animal e do tutor, e é aplicado por um veterinário como se fosse uma vacina. Na prática, a tecnologia permite que, caso o animal se perca, o responsável seja localizado por meio da leitura dos dados.


Em muitas cidades do país, isso tudo é lei como já ocorre em São Paulo, Rio de Janeiro e cidades mineiras. No Congresso, existe um Projeto de Lei para regulamentar a microchipagem de cães e gatos em todo o país, mas ainda não foi votado.


Levantamento do Instituto Pet Brasil (IBP), aponta que existem 8,8 milhões de animais em situação de vulnerabilidade no Brasil (número que cresceu mais de 100% de 2018 pra cá!). Muitos desses animais, em algum momento, tiveram um lar. Sim, existe abandono, mas também existem outras diversas possibilidades do animal se perder por aí e não conseguir voltar.


De volta ao Rio Grande do Sul, o GRAD - Grupo de Resposta a Animais em Desastres - criou um formulário para tentar promover reencontros entre animais resgatados e tutores. O site https://gradbrasil.org.br tem um espaço exclusivo para quem procura algum bichinho das chuvas do Rio Grande do Sul. O GRAD (@grad_brasil) atua neste momento em conjunto com o poder público local.


Mesmo com o cenário de guerra, há esperança. Um exemplo está no perfil @acheseupetrs no Instagram. São mais de mil publicações com animais resgatados espalhados por diferentes abrigos. A página também registra os reencontros de sucesso, resultado da iniciativa de jovens gaúchas. Legal, né? Mas convenhamos, seria muito mais fácil se as pessoas que dizem amar tanto os animais os identificassem. Que a catástrofe sirva de aprendizado.

Jornalista apaixonada por animais e natureza e criadora do "E aí, bicho?", espaço jornalístico que trata das relações entre bichos e humanos. 

bottom of page